quarta-feira, 12 de novembro de 2008
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sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Consumo, tv digital e cinema foram temas abordados
O auditório lotado de estudantes, pesquisadores e professores marcou o final das apresentações do segundo dia da IV Conferência Brasileira de Mídia Cidadã. A pesquisa Da ostentação ao hiperconsumo: o cidadão em busca da felicidade, apresentada pela mestranda Suelen Brandes, da Umesp/SP, tratou da construção do que hoje se pode chamar de “consumidor consciente”. Brandes se baseou em teóricos como Canclini, Baudrillard e Lipovertsky para entender o processo de evolução do consumo. Segundo a mestranda, três etapas histórico-sociais podem ser identificadas na trajetória do consumo: a sociedade de consumo de massa; a sociedade da abundância; e a sociedade do hiperconsumo. Para ela, hoje as pessoas compram objetos para a melhoria de vida, e a pluralidade de produtos ofertados dá ao consumidor o poder de escolha. Em contrapartida, esse mercado torna o indivíduo dependente e frustrado. “A sociedade vive um paradoxo”, completou. Como conclusão, Brandes acredita em um ponto de equilíbrio entre a cidadania e o hiperconsumo.
Paola Madeira, mestranda da Unisinos/RS, mostrou a pesquisa Sociedade civil, digitalização e movimentos midiáticos estruturantes. Com o pedido inicial de sugestões e críticas para o engrandecimento do trabalho em construção, Paola Madeira concentrou sua pesquisa no tripé Estado, sociedade civil e mercado. Focada na questão da tv digital e em como as entidades vão se manifestar para a discussão sobre o tema, a mestranda questionou a falta de abertura na sociedade e o enfraquecimento dos debates sobre a implementação da tv digital.
Os projetos Fala Kbeça e Cineclube Kbeça foram divulgados e comentados pelo integrante do Centro de Referência da Juventude do Espírito Santo, Maxlander Gonçalves. O Cine Kbeça é um projeto de cinema popular e itinerante. Os idealizadores do projeto selecionam um filme, de preferência nacional, que é exibido para um grupo de jovens e discutido após a sessão. Os temas são os mais variados e têm em comum as questões que envolvem a juventude. “O objetivo é empregar o meio audiovisual como recurso pedagógico e busca ampliar o acesso das pessoas ao cinema”, pontuou. Já o projeto Fala Kbeça, é uma revista de assuntos diversos que dizem respeito ao universo da juventude. Ainda em construção, os produtores da revista discutem da prática jornalística à importância e implicações da comunicação em nossa sociedade.
O último trabalho apresentado no Mini-auditório I foi o da mestranda Nívea Canalli. A paranaense não pôde comparecer pessoalmente e enviou um vídeo para ser exibido na sala. A pesquisa A comunicação e o comunicador nas ONGs sociais trata da relação das organizações não-governamentais com a imprensa e as conseqüências dessas relações. Canalli ainda comenta o fato de empresas privadas patrocinarem projetos com interesse na “responsabilidade social”.
Por Ana Paula Almeida
Foto: Aline Lemos
Projeto TVEZ e Internet em foco na tarde da sexta-feira
O formando em Psicologia da Univesidade Federal do Ceará (UFC), Leonardo Soares, iniciou as apresentações, mostrando o trabalho "TVEZ e Diálogos Escolares Contemporâneos". Articulada há três anos, a ação foi idealizada pelas professoras Luciana Lobo e Inês Vitorino. "O projeto, em parceria com a ONG Encine, que existe há 10 anos em Fortaleza, visa usar a educação como forma de estimular o uso crítico da mídia", explica Soares. Ao final da exposição, o estudante aproveitou para exibir parte do curta "Marco Zero", com relatos de participantes do projeto.
Orkut e MSN também foram discutidos no GT8. Apresentado por Iano Maia (FOTO), da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, no Rio Grande do Norte, o Projeto "Internet e juventude: usos e transformações" mostrou a pesquisa feita em outubro de 2007 nos municípios de Serra Negra do Norte e Lajes Pintadas. O objetivo da investigação foi compreender o impacto da internet na vida de usuários desses municípios, que passaram a ter acesso a informações de outros lugares do país e do mundo. "O que a gente pôde verificar é que a internet não modificava radicalmente as tradições do lugar, mas teve grande importância no processo de transformação dos costumes dessas pessoas", destacou Maia.
Por Adriana Barros
Mulher e mídia em discussão
Por Rafael Negrão e Jonara Medeiros
Participantes visitam projetos de mídia cidadã
O projeto Oi Kabum desenvolve a formação de jovens em linguagem multimídia com foco no mercado profissional estimulando a inclusão social e exercício da cidadania. Já o Coque Vive é um projeto de extensão em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco que busca, desde 2006, transformar as representações sociais do bairro, dentro e fora da comunidade.
De acordo com um dos coordenadores do Mídia Cidadã, o professor doutor em Comunicação, Edgard Rebouças, o encontro visa a contribuir para superar o distanciamento histórico entre o discurso científico da academia e o discurso político das experiências empíricas realizadas na área da comunicação pela sociedade civil. “A idéia é justamente mostrar a relação entre esses discursos e saberes, porque cada um tem um pouco do outro e juntos são capazes de realmente promover a transformação da realidade”, enfatizou ele, ressaltando que é a primeira vez que o Mídia Cidadã é realizado fora do Sudeste do País. “Esse aspecto é de suma importância, porque promove a capilarização da iniciativa para todo o território nacional”, destacou Rebouças.
A IV Conferência Brasileira de Mídia Cidadã conta com o apoio do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM), do Centro de Artes e Comunicação (CAC) e da Pó-reitoria de Extensão (Poext), da UFPE, e do Ministério Público do Estado de Pernambuco, além da parceria da Le Fil Comunicação Digital, Sinos (Organização para o Desenvolvimento da Comunicação Social), do Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), do Conselho Regional de Psicologia (CRP-PE) e da Faculdade Marista do Recife.
Formação cidadã: um dos temas em destaque
“Boa vizinhança: possibilidades de uma formação cidadã”. Esse foi o tema do último trabalho a ser apresentado no quinto Grupo de Trabalho (GT5), na manhã desta sexta-feira (17). O representante do projeto, Guilherme Moreira, falou da possibilidade de uma "formação cidadã" expressada por meio da folkcomunicação (canais preservados pelos grupos marginalizados para expressar sua resistência à cultura dominante ) e da comunicação comunitária. A idéia é estabelecer uma mediação entre os conhecimentos adquiridos em sala de aula e os grupos que não têm acesso à informação, utilizando espaços públicos, como os jornais locais, para superar os problemas dos segmentos sociais excluídos. E, desta maneira, ampliar o exercício da cidadania e fazer valer o interesse público. “ Se o acesso à informação e à comunicação é um direito do cidadão, essa aparente confusão talvez expresse o desafio do local, cada vez mais ser produzido a partir da comunidade. Para isso é preciso, antes de tudo, garantir aos vários atores o seu direito de comunicar”, pontuou Moreira.
Após a apresentação de Moreira, teve início a rodada de discussão sobre todos os trabalhos apresentados no GT5. Cicilia Peruzzo, da Cátedra Unesco/Umesp, abriu o colóquio falando do papel da universidade, o que foi e o que ela é hoje, destacando a importância do espaço acadêmico para uma formação cidadã. Já Yvana Fechine, ressaltou a repercussão do que está sendo feito hoje dentro da academia. “Vou citar a palestra do Jonh Downing , em que ele fala que os cursos de comunicação correm o risco de alimentarem um certo cinismo. Enquanto algumas disciplinas mostram a realidade nua e crua, outras ensinam a fazer tudo exatamente igual. O que nós precisamos fazer é estimular novas práticas comunicacionais”, afirmou Fechine. “Temos que lutar por políticas públicas na comunicação, para não nadar, nadar e morrer na praia. Precisamos, sim, nadar com mais gente, mais articulados”, disse Luciana Rabelo, representante do Ventilador Cultural. ”É necessário que esses pensamentos cheguem a outros atores sociais para que se possa alterar, de fato, a realidade política e social dessas comunidades”, acrescentou Fechine.
Por Karla Vasconcelos
Foto: Aline Lemos
Jornalistas discutem a prática profissional
Levantando a discussão acerca da responsabilidade na formação de profissionais jornalistas, Andréa Cristina Santos, da Universidade do Estado da Bahia (UNEA), apresentou o projeto Agência MultiCiência, como promotora dos saberes científicas no pólo Juazeiro e Petrolina. Produzido por alunos da UNEB, em parceria com a sociedade civil, a Agência MultiCiência tem o objetivo de fomentar a cultura de jovens cientistas e promover transformações na comunidade jornalística, discente e docente. A pretensão é formar profissionais preocupados com a cidadania, a ciência e dotados de visão crítica. “Formamos alunos para ocupar os espaços da grande mídia”, lembrou Andréa Santos, que propõe transformar o profissional de comunicação em um agente verdadeiramente comprometido com a sociedade.
Movimentos de luta também foram tema de discussão. Ana Maria Straube, da Umesp/São Paulo, comentou a produção do Jornal Sem-Terra: Popular ou Comunitário? Embasada em experiência própria, Ana Straube lembrou que a luta do Movimento Sem-Terra (MST) vai além do desejo da reforma agrária. Segundo ela, o Jornal é o principal meio de informação entre a militância do MST e objetiva a unificação dos discursos. Embora com pautas sempre relacionadas à movimentação interna do MST, o periódico não é produzido em parceria com a militância. “O Jornal Sem-Terra é formulado em São Paulo e não consegue chegar em todos os espaços no quais o movimento age”, comentou. Para Straube, por ser uma ferramenta de organização interna e fonte de registro da história do MST, o jornal pode ser considerado popular, mas pode também ser comunitário pelo sentimento e elementos comuns que reforçam a proximidade dos militantes do Movimento.
Com uma abertura descontraída que envolveu os participantes da Conferência, as pernambucanas Endie Eloah, Juliana Monteiro e Mariane Menezes apresentaram a Revista Ouvintes. Desenvolvida durante a graduação, a revista eletrônica é direcionada à interação dos surdos com as pessoas sem problemas auditivos. Na elaboração da revista, preocupação com a linguagem visual e escrita. “Conseguimos estabelecer uma ponte entre o universo dos surdos e dos ouvintes”, destacou Mariane.
Por Ana Paula Almeida
Diversidade de temas no campo da comunicação
A apresentação do Jornal Voz da Comunidade, do pernambucano Aglailson José, abriu as apresentações do sexto Grupo de Trabalho (GT6), na manhã desta sexta-feira (17). Produzido e distribuído em Feira Nova, agreste de Pernambuco, o Jornal Voz da Comunidade é um espaço de diálogo e interação entre as diversas vozes que compõem a comunidade. Surgiu da iniciativa de jovens voluntários dispostos a elaborar uma maneira de fazer comunicação como objeto de transformação social, saindo dos moldes da manipulação da notícia e contribuindo com a idéia de comunicação como direito humano. A comunidade participa diretamente da produção do jornal com sugestões de pauta e críticas.
O segundo trabalho apresentado no Mini-auditório II foi "As resistências no/do livro-reportagem Rota 66: discurso jornalístico, ideológico e cidadão", por Ariane Pereira, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (PR). Ela discursou sobre os movimentos de resistência encontrados no livro Rota 66, do jornalista Caco Barcellos. Considerando o poder do discurso da objetividade jornalística e os poderes que produzem e mantêm as desigualdades sociais, Ariane Pereira identifica a posição do autor no livro. “Barcellos está do lado das pessoas que morreram injustamente, das famílias que sofreram essa perda”, pontuou. Para ela, o descontentamento do autor com a polícia e as experiências da infância influenciaram a escrita do jornalista.
Por Ana Paula Almeida
Trabalhos de vários Estados abrem o segundo dia da Conferência
Apresentação de trabalhos de vários Estados do país, como Ceará, Minas Gerais, e Pernambuco, abriram o segundo dia da IV Conferência Brasileira de Mídia Cidadã, no quinto Grupo de Trabalho (GT5). O projeto de extensão do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco “Coque Vive”, que conta com a participação de 15 alunos da instituição e da professora Yvana Fechine, foi um dos destaques.
O Coque Vive existe há dois anos e tem atuado na formação dos jovens, na produção de conteúdos e na construção de novos espaços sociais. Uma das iniciativas, até o fim deste ano, é a inauguração da Estação Digital na comunidade - um espaço voltado para a produção e o conhecimento que vai contar com uma ilha de edição e um estúdio de música. Entre os parceiros do “Coque Vive” estão a Igreja São Francisco de Assis do Coque, o Observatório de Favelas, Auçuba Comunicação e Educação, o Mabi (Movimento Arrebentando Barreiras), a Biblioteca Popular do Coque e Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE (PPGCOM).
O tema "mídia independente" foi apresentado pelo grupo Ventilador Cultural, formado por Anderson Lucena, Irma Brown e Luciana Rabelo, que tem como objetivo estimular uma comunicação livre e educativa. O trio tem uma linguagem inovadora e já produziu vídeos, como “Mulher e mídia: uma relação desigual”, ajudou a criar a rádio livre, promoveu oficinas de fanzine, de rádio, entre outras ações. “No próximo ano, vamos desenvolver o projeto TV no Parque, no qual vamos mostrar vídeos e entrevistar as pessoas”, comenta Rabelo sobre o próximo projeto que vai ser desenvolvido em parceria com a Media Sana, artistas multimídias que trabalham com comunicação e cidadania. A cada mês, vai ser escolhido um domingo para que essa ação se realize.
Por Vanessa Beltrão
Em defesa da Mídia Radical e na busca do diálogo entre os processos de comunicação
Downing defende que a participação da mídia radical não se restringe à utilização dos meios como instrumentos de oposição à comunicação dominante. Esse tipo de mídia de conteúdo e forma revolucionária atua diretamente na construção e caracterização de diversas produções de conhecimento. O pesquisador descreveu os conceitos de vários autores sobre as mídias desempenham junto à sociedade: alternativas, participativas, independente, comunitárias ou do terceiro setor. Já a mídia tática ou de contra-informarção possui aspectos positivos e negativos, sempre dependendo da estratégia e do modo de atuação de cada uma.
A relação entre a mídia e educação também foi discutida por Downing, que citou os estudos do pernambucano Paulo Freire como referência mundial nesse campo. Todavia, John lamenta a distância entre os estudos acadêmicos e a produção de mídia nas universidades. Dentro da perspectiva educacional, "é preciso desenvolver a capacidade dos estudantes de discutir a construção da mídia e os processos de comunicação". As comunidades são relacionadas como grupos nos quais as pessoas constroem relações afetivas, mas, na realidade, não se pode observá-las sem identificar diferenças, diversidades e conflitos de interesse. Dessa forma, os projetos de mídia radical podem ser uma forma de organizar as comunidades e superar as diferenças, como defendeu ele.
Cicilia Peruzzo questiona o porquê do uso do termo mídias, e não de processos de comunicação. O pesquisador esclarece que compreende a produção de mídia como um processo educativo e transformador, e enfatiza a prioridade de se estabelecer uma comunicação política, atuando por dentro dos movimentos sociais. "Se a mídia independente não existisse, deveria ser inventada", ressalta Downing. Assim, qualquer pessoa pode postar seu material livremente, mesmo sem estar vinculada a alguma emissora ou empresa de comunicação.
Por Jonara Medeiros, Manoela Moreira e Thayse Freitas